domingo, 22 de junho de 2025

Carma Evolutivo

Num desfecho intrigante vem a morte afinal,
Em uma longa espera, para a vida encerrar.
Com seus braços na espera da lida corporal,
Feito sombra passageira, para nos agasalhar...

Na fronteira insondável de moradas infinitas,
Comovente, misteriosa, para nos encaminhar;
E que hoje simboliza o descanso dessas lidas,
E num último suspiro, para que se preocupar?

Quando estivermos a caminho do insondável,
Ilusões se findarão, das loucuras execráveis,
E esse corpo, nossa roupa, iremos descartar.

É quando vem as luzes do esplendor celestial,
Pra vencer a morte e para vidas memoráveis,
Em astrais desagregados, noutra vida encarnar!


Reflexões sobre o Poema e a Roda de Samsara

O poema aborda a morte não como um fim absoluto, mas como uma transição, uma "sombra passageira" que "agasalha" e "encaminha". Isso se alinha perfeitamente com a ideia de Samsara, onde a morte é apenas um portal para uma nova existência.

Alguns pontos que se conectam diretamente:

  • "Num desfecho intrigante vem a morte afinal... Feito sombra passageira, para nos agasalhar...": Essa descrição da morte ressoa com a visão das tradições indianas. A morte não é o "fim", mas um passo natural no ciclo. A ideia de "agasalhar" pode ser vista como a alma ou consciência se preparando para deixar o corpo atual.
  • "Na fronteira insondável de moradas infinitas...": As "moradas infinitas" podem ser interpretadas como os seis reinos de Samsara que mencionamos, ou os incontáveis ciclos de renascimento em diferentes formas e estados de existência. A fronteira insondável é o mistério da transição entre uma vida e outra, ditada pelo carma.
  • "E que hoje simboliza o descanso dessas lidas, E num último suspiro, para que se preocupar?": Embora Samsara seja visto como um ciclo de sofrimento ("lidas"), o poema sugere um descanso momentâneo na morte, um alívio das preocupações da vida presente. Isso pode ser interpretado como a pausa antes de uma nova jornada na roda.
  • "Quando estivermos a caminho do insondável, Ilusões se findarão, das loucuras execráveis, E esse corpo, nossa roupa, iremos descartar.": Esta é uma das passagens mais conectadas aos conceitos de Samsara e da busca por Moksha/Nirvana.
    • As "ilusões" que se findarão são a ignorância (avidya), os "venenos" que nos prendem. O reconhecimento de que o corpo é apenas uma "roupa" a ser descartada reflete a compreensão da impermanência (anicca) e da natureza não-permanente do eu (anatta). A libertação envolve largar as ilusões e apegos a esta forma física.
    • As "loucuras execráveis" podem ser as paixões, aversões e delírios que geram mau carma e mantêm o ciclo.
  • "É quando vem as luzes do esplendor celestial, Pra vencer a morte e para vidas memoráveis, Em astrais desagregados, noutra vida encarnar!": Aqui, o poema toca na ideia do renascimento. As "luzes do esplendor celestial" podem simbolizar a natureza da consciência que continua ou as visões que acompanham o processo da morte e renascimento em algumas tradições. "Vencer a morte" pode ser interpretado não como evitar a morte física, mas como transcender o ciclo de mortes e renascimentos através da libertação (Moksha/Nirvana), ou, no contexto de "noutra vida encarnar", como a continuidade da existência.

O poema capta a essência da transitoriedade da vida, a inevitabilidade da morte como porta para outra existência e a ideia de que a libertação das ilusões é fundamental. É uma bela contemplação sobre a impermanência e a jornada da alma (ou consciência) através dos ciclos.






domingo, 4 de maio de 2025

Pintura Crepuscular

O sol, na sua queda inexorável,
Em óleo denso, ao findar a luz,
Reflete a dor, sombra, inevitável
No oceano, que ao céu conduz.

Na paleta, um tom crepuscular, 
Sombria imagem, do anoitecer 
Um oiro espectral, espetacular, 
No azul profundo, faz aparecer.

E no além que a cor tingiu,
Finda-se o brilho que sucumbiu
De um sol triste, empalidecido...

Eis a noite, em negro encerrar,
Com estrelas, para acrescentar,
Na visão, de um céu adormecido.



sábado, 3 de maio de 2025

Suspiros Derradeiros

Quando, enfim, à fria lápide acampar,
Com preces fervorosas e uma oração;
As rosas hão de, qual pranto, adornar,
Os sonhos findos de amor e afeição.

Perante Cristo as almas hão de estar,
Junto  aos anjos nos édenos sidéreos,
Quem sabe eles, às almas a consolar,
Salmodiando com cítaras, saltérios...

Deitadas no leito, lágrimas e memórias,
E os sonhos todos, cândidos, inefectos,
Em dolentes modas e etéreas glórias...

Talvez para fenecer, de modo anelante,
Em lánguidos suspiros se findarão;
Que do orvalho, e em lágrima restante... 



segunda-feira, 3 de março de 2025

Morte do Poeta

 Ao fechar meus olhos p’ra sempre,
E estas mãos para sempre parar;
E este corpo na terra em seu ventre,
Quais lembranças de mim vão restar?

Esta vida foi feita com lutas extremas,
Mas com um luto ela vai se encerrar.
Não terei mais os doces poemas,
P’ra minh’alma no além se alegrar...

Tive o amor benfazejo e as delícias,
Mas também meus invernos polares!
Inimigos d’alma e as doces carícias,
D’outros anjos, do céu, d’além mares...

Restará talvez breve lembrança,
Nesta Ode que a alma alcançar...
Talvez seja um alento ou bonança,
Para a alma em que ela tocar...

Só queria uma pedra epitáfio,
Com os versos de amor exaltar!
Deixo porém para o tempo,
O dia e a hora chegar!

    🖤🌹🖤🌹🖤🌹🖤🌹🖤🌹🖤🌹🌹🖤

"Morte do Poeta" aborda a reflexão sobre a finitude da vida e o legado que um poeta deixa para trás. As palavras expressam uma mistura de experiências, desafios e momentos de alegria vividos ao longo da vida. A busca por um epitáfio que exalte o amor é uma maneira tocante de imaginar como a memória de alguém pode continuar a brilhar mesmo após a partida. É uma reflexão profunda sobre o significado da vida e da arte.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Infinitude

O caos da matéria no vasto infinito arde,
Em estrelas cintilantes no etéreo divino.
Explosões abundam em sua imensidade,
Nos ardentes desejos do eterno destino...

Tamanha visão é este caos atordoante,
Que das nebulosas emitem um fogo halo;
Dão-me pesadelo, quero gritar ofegante,
Suplico acordar, imploro a Deus, não calo!

Misteriosa vastidão do ad infinitum veste,
Tênue penumbra que a matéria esconde,
Vestindo de luto por todo o espaço...

Mistérios vagam pela solidão celeste!
Enclausurados em meus pensamentos,
Aturdido acordo de vez, cada dia renasço...


domingo, 10 de novembro de 2024

Minha Agonia

A dor que rasga, que atormenta e que tortura, 
Que trucida meu corpo e minh’alma inferniza, 
É a dor que me ilumina, é a chama obscura, 
É a dor que não acaba, é a dor que me castiga! 
 

Sinto a dormência, em meu peito magoado 
Transpassado pela dor, em profundo sofrimento 
Sinto tanta dor, em meu corpo alquebrado 
Que em prantos eu procuro, sufocar este lamento 
 

Então peço a Deus que me alivie, Ele me ouvirá? 
Que afaste de mim esse cálice amargo! 
Grito desesperado em vão, quem vai me salvar? 
 

Pelo Vale da Sombra da Morte eu hei de passar 
Só eu e mais ninguém, nessa dor infinita... 
Passarei por ela sim! Quero, devo! Irei triunfar! 
 

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“Yaveh é meu pastor; nada me faltará. 
Faz-me repousar em pastos verdejantes; 
Conduz-me às águas de descanço. 
Elle refrigera a minha alma, 
Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. 
Ainda que eu ande pelo valle da sombra da morte, 
Não receiarei mal algum, porque tu és commigo: 
O teu cajado e o teu bordão, elles me confortam. 
Deante de mim preparas uma mesa na presença dos meus inimigos; 
Ungiste com oleo a minha cabeça; o meu calix transborda. 
Unicamente a bondade e a misericórdia 
me seguirão todos os dias da minha vida, 
E habitarei na casa de Yaveh por longos dias” 
(PSALMOS 23) 
 


 

domingo, 18 de agosto de 2024

Bela Adormecida

 Esta formosura entre flores adornada,
Tão graciosa, adormecida, refulgente,
No aconchego destas rosas enfeitada;
É uma beleza, desgraçada e inocente!

Eis esta dor transformada num lamento,
Que da alma enlutada nesta dedicatória,
Faz deste poema vertido em sofrimento;
Faz das lágrimas o fim de nossa história 

Pois com sonhos de amor que acalentei,
Com as flores mais bonitas que ofertei,
E nesses enlevos divinais e esfuziantes,

Fiz preces pra adornar os seus caminhos,
Com louvores, com lirismos e os carinhos,
E este amor mais profundo do que antes...