quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Morada Celestial — Meu tributo à João da Cruz e Sousa

 Lá, no negrume etéreo das jornadas,
Onde os anjos antecedem aos mortais;
Lugar, que dos deuses são moradas,
Regiões celestes dos tronos de cristais!

Lá, no vasto sideral espesso e místico,
Do cosmo gasoso, infinito e fulgurante;
Floresce a paz de um mundo cabalístico,
Uma dádiva de Deus, sublime radiante!

Lá, na plenitude deste mundo sideral,
Do sagrado fogo, do amor divino santo;
Dos desejos d’alma, do celeste abrigo,

Habita a plenitude, soberana e imortal,
Com as luzes gloriosas de um encanto,
Etérea plaga, sem pecado, sem castigo...


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João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis, capital da então província de Santa Catarina, no dia 24 de Novembro de 1862. Era filho dos negros alforriados, Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição. Portanto trazia consigo, o sangue sem mescla de suas raízes africanas. Mas as circunstâncias proporcionaram para que Cruz e Sousa fosse amparado na infância, por uma família de linhagem fidalga, onde recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. Amparado por essa família, estudou francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem estudou Matemática e Ciências Naturais.

Nos seus trinta e seis anos de existência, peregrinou por todo um período de experiência de agruras e sofrimentos. É claro que pelo fato de ser negro em sua época, o sofrimento fora ainda maior. Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna.

Em 1885 lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea.

Após longas peregrinações pelo norte e sul do país, aportou na cidade do Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com o jornal Folha Popular. Em Fevereiro de 1893, publica Missal (prosa poética) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra. Viu a mulher enlouquecer, pelo fato de seus quatro filhos morrerem vítimas de tuberculose. Sofreu miséria, amargou ultrajes.

Morreu a 19 de Março de 1898, na cidade de Sítio, Minas Gerais, para onde fora levado as pressas vencido pela tuberculose.

Escrevi Morada Celestial, inspirado nesse ilustre poeta, um de meus prediletos.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Etérea Conexão

 Esta visão, encanta e transcendentaliza,
Divina transfiguração pulsam ao brilhar.
No apogeu do amor que unge e diviniza,
Contemplo essa luz, pelo mundo irradiar!

Que poder é esse, que cativa e encanta, 
Fluindo dali como a fonte de inspiração;
A fonte primordial, divina e sacrossanta
Que fazem do Todo, sonora consagração...

Fonte primordial da etérea  construção!
Glória celestial, obra prima da natureza,
Soturno esplendor, do poeta, inspiração!

Magnificentes pilastras, obras  da criação,
De cósmica substância, irradiando beleza,
Serenamente pelo espaço, vaga na sólidão!

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Nosso mundo e suas orbes, como uma nave-mãe, vagueia pelo infinito, carregando dentro de si um vasto universo multicultural... Quando o ser humano, o poeta, expressa o que de mais profundo há em sua alma, a natureza se torna uma arte que transcende ad infinitum.




sábado, 21 de outubro de 2023

Flor da Paz

Sob o céu da Palestina, 
A terra sofre, o fogo consome...
A fumaça é o cenário,
No cenário dos conflitos, 
De dores e aflição;
Das lágrimas derramadas, 
Dos sonhos que se perderam,
Que a guerra destruiu
E a esperança ruiu ao chão...

Sob o céu de Jerusalém,
De histórias entrelaçadas;
De Culturas milenares, 
Mas de vidas desconsoladas
Com dores no coração 
Das bombas e estilhaços 
Causando destruição.

Pois os sonhos emergem das ruínas, 
As palavras ecoam de vozes amordaçadas, 
Nossas dores não toca os corações vazios,
—Não desejamos meramente sobreviver,
Aguardo sim, uma luz no final do horizonte...

—A paz é a semente de uma flor!
Que seja semeada e colhida,
Tanto na Palestina como Israel,
Para curar todas as feridas,
As dores, os conflitos, o sofrimento...
—Que a paz conceda-nos essa flor!


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Não é o mundo que precisa de paz, são as pessoas. Quando as pessoas a alcançarem, o mundo estará em paz.” Essas sábias palavras são de Prem Rawat.

Num mundo onde a Paz é almejada, cantada e versejada, ela nunca se pareceu tanto com Jerusalém...

A Paz parece inalcançável e inatingível. Apesar de todas as pessoas e de todos os credos professar uma fé, ou praticar uma religião, elas se lançarão umas contra as outras, para defender os interesses de sua pátria ou de uma causa. Seja cristão contra cristão, judeu contra judeu, muçulmano contra muçulmano... É irônico que assim seja... Porém aqui vejo Hamas e Israel.

Ninguém quer mais um Holocausto, ou como dizem os judeus, uma Shoá.

Não será somente com palavras e boas intenções que alcançaremos a paz. Ela tem de começar dentro de nós.

Tem de partir não só de israelenses, palestinos, árabes, brasileiros ou japoneses. 

Tem de começar com governantes, líderes de cada religião, de cada reduto, de cada facção...

A Paz só acontece quando houver tolerância, compreensão e respeito. A partir do instante que cada um reconhecer que somos peças interligadas e dependentes uma das outras, aí nascerá a Paz.

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Do Cativeiro para a Liberdade

Um pássaro na gaiola 
Canta a triste sorte!
O céu lhe foi negado
Nem mesmo o vento forte.

Canta o passarinho,
Para o algoz lhe agradar
Canta o passarinho,
Todo dia sem parar...

Canta a triste alma, 
O pássaro engaiolado,
Canta a triste sina, 
Na redoma enclausurado

Canta o passarinho,
E gorgeia ora inquieto, 
Mal sabe o bichinho
Que jamais será liberto...

O algoz não quer saber, 
Se canta com alegria.
O algoz não quer saber, 
Se canta amargurado;

Imerso na ignorância, 
O algoz no doce lar,
Só sabe que o passarinho, 
Canta  pra lhe agradar...

Porém o bicho homem, 
Numa jaula não quer viver.
Nem mesmo o seu filhinho, 
Numa jaula quer lhe deixar.

No entanto o passarinho, 
Bicho homem quer lhe podar,
O céu na amplidão, 
Para o pássaro voar...

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Um pixarro foi abandonado por seu dono. Vivia numa gaiola bem pequena e apertada. Tentamos em vão, libertar o bichinho. O pássaro por já estar condicionado há muito tempo naquele  ambiente, já nem sabia o que era voar, apenas saltitava pelo chão, por mais que tentássemos soltá-lo de uma altura para alçar vôo. Nada...  Construímos então para ele, um viveiro enorme, que meus filhos apelidaram de "a mansão do Paco", com direto inclusive à uma bela "varanda". Tentamos soltar mais uma vez, porém o bichinho não foi. E assim ficou na mansão viveiro, ampla e arejada, com direito à contemplar as árvores bem de perto. Um dia se foi. Para mim, liberto desta prisão.

Escrevi esses versos por entender que essa questão dá muito debate.  Particularmente sou contra o aprisionamento de pássaros que estão ali apenas para satisfazer o ego de muitos.



quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Soneto no Quadro

Soneto no Quadro

Em um quadro vejo um lindo soneto,
Soberbo talento, bonito, enfeitado!
Cores intensas, vibrante o quarteto,
Nas mãos do poeta o soneto pintado...

Pintado com vida e paixão tal soneto,
Do fundo da alma reflete visões...
Fluindo em beleza sugere em terceto,
Expressa na tela amores, paixões...

As hábeis mãos mesclam as cores,
Com todo talento nascido na alma,
De sua paixão, de angústia e dores...

O coração é a paleta do esteta,
As cores inspiram, o amor lhe acalma,
E finda o soneto nas mãos do poeta...

🖌🎨🌹

SONETO NO QUADRO" celebra a arte da escrita poética, enfatizando a importância da paixão, da experiência pessoal e da expressão emocional na criação de um poema. É uma homenagem à criatividade do poeta e à maneira como ele transforma palavras em uma obra de arte, de acordo com suas experiências de vida, com suas ilusões e desilusões, alegrias, angústias e dores. Mas que consegue transformar metaforicamente o soneto numa pintura.



terça-feira, 26 de setembro de 2023

As Gárgulas (Tributo à Catedral de Notre Dame)

 As Gárgulas – Tributo à Catedral de Notre Dame

As gárgulas estão presentes, lá em cima
Observando, vigiando, não se importando
O tempo que for preciso, acima do altar!
Pois são tenebrosas, e diante dos santos
Estão imóveis, esperando o sino tocar...

Catedral gótica, centenária e majestosa
O que de mais belo há em toda Europa
Onde uma velha porta, antiga e formosa
Fechada com os ferrolhos e os bronzes
Esconde mitos, de uma vida pura e casta...

As rosáceas e ogivais refletem em matizes,
As luzes coloridas, reflexos de uma vida;
Segredos de séculos, dentro da grande nave
Construída com pedras, obras de um artista,
A bela catedral, sombria, sagrada e mística!

Onde na escuridão de seus sacros recintos
As luzes coloridas, os reflexos dessa vida
Atravessam os vitrais, guiando os benditos
Iluminando almas de um ar envelhecido,
Resquício de outrora, ritual do Santo Ofício

Esta solene catedral, gótica, das orações,
Ecoam vozes, nas penumbras da História,
São cânticos dos santos e das inquisições 
Vividas no altar, nas colunas deslumbrantes 
Rezando as ladaínhas, solenes meditações

Tesouros ocultos, guardados a sete chaves,
Número da perfeição, atributo de Deus Pai
Dos mártires, de Cristo e dos Santos Anjos
Silenciosa e altiva; sacrossanta e reverente.
É a perfeição dos céus, cujo nome é Adonai.

A bela catedral, a guardiã infalível da fé,
Dos ritos, dos mistérios, segredos e sinal
Dos pedreiros, dos maçons, da santa Sé
Das gárgulas obedientes no alto da catedral
Observam os homens, silenciosamente...

As gárgulas estarão presentes, e lá em cima,
Aguardam o julgamento dos seres racionais!
Afastando os intrusos, que ousam profanar
Os mistérios, e os segredos do sacrossanto,
Sepultados nas criptas, embaixo de um altar...

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Gárgulas, especialmente na Idade Média, eram ornadas com figuras monstruosas, humanas ou animalescas, comumente presentes na arquitetura gótica. O termo se origina do francês gargouille, originado de gargalo ou garganta, em Latim gurgulio, gula. Palavras similares derivam da raiz gar, engolir, a palavra representando o gorgulhante som da água; em italiano: doccione; alemão: Ausguss, Wasserspeier.



domingo, 17 de setembro de 2023

Livres para Voar

 Há almas presas, doridas, encarceradas,
Que destas cadeias, fitam a imensidão,
Cantam a triste sina cruel, aprisionadas;
Nuvens angustiadas, retidas nesta prisão!

Almas vibrantes gorjeiam ora inquietas,
São sinfonias plangentes, mas delicadas.
Almas tristonhas e tantas almas desertas;
Nesta clausura, dormentes e desgraçadas!

Já libertas revoam para outros mundos.
São doces anseios que dentro da alma vão,
Para os céus, risonhos, lindos, fecundos!

São livres agora, revoam na imensidão!
São livres agora no mais sublime além,
Livres hão de voar e levam meu coração!

— Dedicado aos irmãos do Hospital Espírita Fabiano de Cristo